Memória:"Ruruneira"
Tinha passado a tarde inteira com ela ao meu colo! Aqueles olhos estavam muito esbugalhados, as pupilas não tinham o mesmo brilho, mas o carinho que me dava não deixava de ser o mesmo. O seu “rum rum” provocava despreocupação e fazia despertar uma curiosidade intensa da sua espécie e nas razões de ser desta mesma...
Lembro-me de pegar nela, sentir algo diferente no seu ventre e de ir a correr ter com a minha mãe mostrar-lhe que estava grávida, tendo esta concordado, massajando-lhe suavemente a barriguinha peluda e de lhe coçar um pouco as orelhas frias – devido ao frio inverno que decorria lá fora. Optei por fazer os trabalhos com ela no meu colo, sentindo as pernas a vibrar de ternura e o seu rabo preto batendo suavemente em mim. Mas não lhe era permitido ficar dentro de casa e para que ninguém desconfiasse coloquei-a lá fora junto de todas as outras...
Como detesto recordar o facto de a deixar sentada do lado de fora da porta e de lhe dizer Porta-te bem “Runa” e de ela se levantar e miar... aquele mio de descontentamento, aquele mio de quem quer mais carinho, aquele mio de desconsolo ... Mal sabem que pior que pô-la lá fora, foi ter que lhe fechar a porta na cara.
O pior nunca esperaria naquele dia em que sentia algo para com ela, naquele dia em que a abraçara como nunca, naquele dia que os seus olhos não transmitiam o mesmo calor, naquele dia, em que ela morrera... Naquele dia em que o bater da ferramenta abria a terra e a dor o meu coração.
BM
17 de Dezembro de 2009
P.s.: Eu sei que vem tarde, mas... aparece que ainda não me habituei ao blogue.. por isso até tornar isto um hábito todos vocês vão ler as notícias mais tarde...